sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Arbitrário Folhetim - 11º capítulo [Penúltimo]

De Isaac Santos

Capítulo 11 [penúltimo]

Cena 1. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Telma e Olga trocam insultos enquanto se engalfinham. Alexandro ainda na cama, inerte. Cristina aparece à porta.

CristinaParem!  (tom) Mainha, meu padrinho tá morrendo.

Telma e Alexandro se abalam com a notícia. Telma empurra Olga na cama e sai para o corredor. Alexandro se levanta, olha com desprezo para Olga que ainda está estirada na cama e sai. Olga mal consegue disfarçar o seu contentamento, mas, dissimulada, se recompõe e sai imediatamente.

Cena 2. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Corredor. Interior. Dia.

Antero ainda caído no chão. Parece morto. Telma e Alexandro, tensos, preocupados, estão agachados perto do corpo. Olga anda de um lado para o outro.

Olga – (dramática) Minha Nossa Senhora, não deixa!

Clotilde aparece com os olhos vermelhos de quem estava chorando muito, olha para a encenação de Olga e se aproxima de Telma, mas não consegue encarar Alexandro.

Clotilde – (a Telma) Eu ouvi a Cristina falando... (T) Meu Deus do Céu!
Telma – Ela adora o velho. 

Cristina volta com Doutor Hermínio. Davi vem um pouco atrás.

Doutor Hermínio – (a Cristina) Vá dizer ao Augusto pra preparar o carro.

Doutor Hermínio se aproxima de Antero e começa a fazer os primeiros procedimentos na tentativa de salvá-lo. Telma se emociona. Clotilde tenta confortar a amiga. Alexandro as observa. Davi reforça o teatro de Olga.

No abraço de Davi em Olga, Fusão para:

Cena 3. Hospital. Sala de Espera. Interior. Noite.

Davi abraça Olga, que está em prantos. 

Davi – Não nos diga uma coisa dessas, Doutor...
Dr. Hermínio – Não posso enganá-los. Infelizmente ele não resistiu à cirurgia.

Cena 4. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Noite.

Clotilde, Telma, Alexandro e Cristina estão sentados em volta da mesa. Todos preocupados. Dora passa um café para eles.

Telma – Dora, deixa aí que eu termino esse café. Vá descansar. (T) Cristina, você devia ir se deitar também.
Cristina – Eu quero saber do meu padrinho.
Telma – Qualquer coisa eu te acordo.
Cristina – Então eu vou mesmo.  

Cristina e Dora se retiram. Instantes. Ouve-se um barulho de carro.   

Cena 5. Fazenda Princesa do Sertão. Exterior. Noite.

Carro parado. Augusto desce e abre a porta para Olga e Davi.

Augusto – A senhora ainda vai precisar de mim?
Olga – (a Davi) To morrendo de dor de cabeça. (se retira)
Davi – A Dona Olga quer que você já deixe um carro preparado pro Alexandro. Eles vão embora de manhã cedo. (sai)

Cena 6. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Noite.

Clotilde, Telma e Alexandro tomam cafezinho. Entra Davi.

Davi – Já falei com o Augusto, Alexandro...
Alexandro – A gente quer saber primeiro do Antero, Davi.
Davi – A Olga foi direto pro quarto. Tá desolada!

Alexandro se levanta, abraça Telma e volta a sentar. Clotilde se abraça com a amiga, que chora. Davi se serve de café e acende um cigarro.

Davi – O corpo deve chegar logo cedo.
Telma – E o sepultamento, Davi?
Davi – No mausoléu da família.

Cena 7. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Olga. Interior. Noite.

Olga vindo do banheiro. Davi entra no quarto. Ele ainda está fumando o mesmo cigarro.

Olga – E aquele povo já se recolheu?
Davi – Tão lá na cozinha. 
Olga – Me dá um cigarro aí.
Davi – Cê tá com medo de toda essa situação, né?
Olga – Me abraça, Davi.

Davi e Olga se abraçam com cumplicidade.

Cena 8. Salvador. Stock-Shots. Exterior.

Imagens bonitas da cidade amanhecendo

Cena 9. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Dia.

Telma e Clotilde preparam o almoço. 

Clotilde – Eu to começando a duvidar que Deus exista, Telma. Não é possível que a Olga se dê tão bem fazendo o mal pras pessoas. 
Telma – Eu tenho que tirar a minha filha de lá. 

Cena 10. Hotel Palace. Gerência. Interior. Dia.

Alexandro assina alguns papéis. Entra a secretária.

Secretária – Seu Alexandro, o mecânico ligou e disse que o carro do senhor já tá retificado.
Alexandro – Obrigado. (a secretária vai saindo) Ó, eu não to pra ninguém. Vou descansar um pouco.

A secretária se retira. Alexandro se levanta e vai trancar a porta.

Cena 11. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Sala principal. Interior. Dia.

Velório de Antero. Alguns amigos do falecido continuam por ali. Cristina, muito abalada, está perto do caixão: Não para de olhar o rosto do seu padrinho. Olga, Davi, Vitor e Adelaide estão num canto da sala.

Adelaide – Tadinha da Cristina...
Olga – Tadinha de mim! Eu sou a viúva.
Davi – Você mandou preparar alguma coisa pra quem quiser se alimentar, Olga?
Olga – Ah, tem chá, tem biscoitos, tem cafezinho...
Davi – Quer que eu vá lá falar com a Dora?
Olga – Não, deixa que eu vou. Eles têm que começar a se acostumar comigo. Corte para:

Cena 12. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Dia.

Dora faz um prato de comida para Augusto. Ele já está sentado à mesa. Estão em conversa avançada.

Augusto – Às vezes ela me olha estranho.
Dora – Ela olha assim pra todo mundo.

Entra Olga. Susto de Dora e Augusto.

Olga – Falando de mim?
Dora – Claro que não, dona Olga. A senhora quer alguma coisa?
Olga – Tô vendo que você preparou alguma coisa pro almoço.
Dora – Eu fiz arroz com ervilha, uma saladinha de alface e bife acebolado.
Olga – Tá bem. (vai saindo) Depois eu preciso falar com você, Dora.

Cena 13. Salvador. Stock-Shots. Exterior.

A Cidade anoitecendo.

Cena 14. Fazenda Princesa do Sertão. Banheiro/Quarto de Olga. Interior. Noite.

Olga toma banho. Davi está sentado na cama, fumando. 

Davi – Tinha mais gente do que eu pensava.
Olga – Tá pra nascer gente mais hipócrita que gente rica!
Davi – Acho bom você ter cuidado com a Adelaide: Ela tá muito sua amiguinha.
Olga – Ah, você fala assim porque ela é mulher do Vitor.
Davi – O meu caso com o Vitor é de muito antes deles dois se conhecerem, Olga.
Olga – (saindo do banheiro) Então pra que ele se casou com a Adelaide?
Davi – As coisas não são tão simples pra todo mundo. Corta para:

Cena 15. Fazenda Princesa do Sertão. Cozinha. Interior. Noite.

Dora serve sopa para Cristina.

Dora – Você tem que se alimentar...

Entra Davi.

Davi – Essa sopa parece deliciosa.
Dora – Vou lhe servir um prato.
Davi – Deixa que eu mesmo boto, Dora, a Olga tá te chamando lá no quarto.

Dora sai.

Davi – (se servindo) Tua mãe me pediu pra te deixar lá na casa dela amanhã.
Cristina – Ela me falou... Eu já arrumei minhas coisas.
Davi – Aqui você tem seu cavalo, tem a Dora, que tem muito carinho por você. (T) Eu vou ficar vindo sempre aqui. Quando tu quiser, combina com tua mãe e vem junto comigo.
Cristina – Não sei não, Davi...
Davi – A Olga tem aquele jeito, mas não é má pessoa. 
Cristina – Eu me sinto tão perdida. (T) Minha mãe decide as coisas por mim. Parece que a minha opinião não vale. 
Davi – Mas ela tá querendo acertar. Quer o teu bem/
Cristina – (corta) Minha mãe nem me conhece bem...

Cena 16. Fazenda Princesa do Sertão. Quarto de Olga. Interior. Noite.

Olga está deitada. Dora entra.

Dora – A senhora me chamou?
Olga – Me responde uma coisa: Você tem algum parentesco com o chofer?
Dora – Não.
Olga – Vocês têm muito tempo que trabalham aqui, né?
Dora – Eu tenho mais de trinta anos e o Augusto deve de ter uns vinte. (T) A senhora vai querer mandar a gente embora?
Olga – Eu acho estranho que vocês parecem não ter uma vida lá fora...
Dora – Eu sou sozinha no mundo, o Augusto também. Nossa vida é essa fazenda.

Cena 17. Casa de Telma. Sala. Interior. Noite.

Clotilde e Telma escutam rádio. Chamam à porta.

Clotilde – Mas quem será? Já passa das oito. (vai atender) Já vou. (abre a porta) Oi, Alexandro!
Alexandro – Será que a gente pode ter uma conversa?
Telma – Bom, eu já tava indo me deitar... Boa noite pra vocês! (sai)

Corte descontínuo: Alexandro e Clotilde sentados no sofá.

Clotilde – Eu te devo um pedido de desculpas, Alexandro...
Alexandro – Eu não vim te cobrar nada.
Clotilde – Então você me perdoa? A gente continua junto?
Alexandro – Não, não é bem isso que eu to dizendo. Eu só não quero te culpar de nada. Não me sinto no direito de te cobrar. (T) Mas eu pensei muito, mas muito... Eu quero que você me devolva o anel de noivado.
Clotilde – (triste) Eu compreendo. (T) Espera um pouco. (sai)

Instantes. Clotilde volta trazendo consigo uma caixa musical, um ursinho de pelúcia, uma pulseira de ouro.

Clotilde – Leve isso também, Alexandro.
Alexandro – Eu não quero nada disso... São seus!
Clotilde – Não me ache orgulhosa, mas não acho justo ficar com esses presentes.
Alexandro – (constrangido) Então dê a quem você quiser.
Clotilde – Aqui está a sua aliança. (T) Obrigada por tudo, Alexandro.
Alexandro – (contendo a emoção) Vê se não se atrasa pro ensaio de amanhã...

Clotilde acompanha Alexandro até a porta. Tendo ele saído, cai num choro incontrolável.

Cena 18. Rua. Exterior. Dia.

Amanheceu. Leiteiro passa de bicicleta, tocando buzina.

Cena 19. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Dia.

Clotilde observa a fervura do leite. Mesa de café da manhã está posta: pães, manteiga, garrafa de café e bolo de fubá. Telma entra.

Telma – Caiu da cama?
Clotilde – Quase nem dormi direito, Telma.
Telma – Eu imagino.
Clotilde – Focar no trabalho de agora em diante!
Telma – Faz bem, amiga.
Clotilde – Você vai depois do almoço, né?
Telma – É, a Cristina chega daqui a pouco. Corte para:

Cena 20. Fazenda Princesa do Sertão. Vários ambientes. Interior/Exterior. Dia.

Cristina, emocionada, despede-se de tudo e de todos. 

Cena 21. Hotel Palace. Bar. Interior. Dia.

Clotilde ensaia. Para o ensaio, chora, se recompõe e continua. Instantes. Volta a chorar.

Cena 22. Hotel Palace. Gerência. Interior. Dia.

Alexandro nos seus afazeres. A secretária entra.

Secretária – A Clotilde tá querendo falar com o senhor.
Alexandro – Diga que não posso receber ninguém. 
Secretária – Senhor, eu acho que ela tava chorando. 
Alexandro – Dê um copo de água com açúcar. Corte para:

Cena 23. Hotel Palace. Antessala da Gerência. Interior. Dia.

Secretária esboça uma resposta negativa.

Clotilde – Ele não vai me atender, né?
Secretária – Ele pediu desculpas, mas tá realmente muito ocupado.
Clotilde – Tudo bem. Corte para:

Cena 24. Central Telefônica. Interior. Dia.

Telma entra e vai logo cumprimentar a funcionária. Parecem velhas conhecidas.

Cena 25. Casa de Davi Valério. Interior. Sala. Dia.

Davi deitado com a cabeça no colo de Vitor. 

Davi (fumando) Você vai almoçar comigo?
Vitor – Adelaide tá me esperando pro almoço. Eu passei só pra dar um beijo e saber como ficaram as coisas lá na fazenda.
Davi – Sabe aquela coisa que você deseja muito, mas depois que tem não sabe bem o que fazer? 
Vitor – Não é pra menos. Tá podre de rica, mas cheia de responsabilidades também. (já muito incomodado com a fumaça) Quero ver quando tu vai parar com esse vício...
Davi – (ignora) A rádio vem pro meu nome, meu amor. Conseguimos! (sorri)

Cena 26. Casa de Telma. Quarto de Clotilde. Interior. Dia.

Clotilde está desalentada em sua cama. Entra Cristina.

Cristina – (leve) Ei, eu também acabei de perder alguém muito querido. 
Clotilde – Tá doendo muito, Tina. (tom) Mas você tem razão. (T)Eu tava saindo do hotel e tua mãe me pediu pra ir com você, escolher uma cama e um guarda roupa. A gente aproveita e toma um sorvete. (sorri)

Cena 27. Salvador. Stock-Shots. Exterior. Noite/Dia.

Imagens da Cidade: Passagem de tempo de algumas semanas.

Cena 28. Fazenda Princesa do Sertão. Cozinha. Interior. Dia.

Dora lava a louça. Entra Olga.

Olga – Tô saindo e não volto pro almoço, Dora...
Dora – A senhora me desculpe lhe abusar, mas é que ando tão preocupada com esse sumiço do Augusto. Ele nunca foi de fazer isso. (emocionada) Chego a pensar no pior!
Olga – A gente já o procurou por tudo quanto foi canto. Vamos esperar que ele apareça.
Dora – Mas a senhora já até contratou outro motorista/
Olga – (corta) E você quer que eu faça o quê? Até mais!

Cena 29. Hotel Palace. Gerência. Interior. Dia

Alexandro está esperando por Clotilde. Ela entra.

Alexandro – Como vai, Clotilde?
Clotilde – Vou levando. (tom) Já faz alguns dias que eu não consigo falar contigo. (olha pra cadeira) Posso me sentar, Alexandro?
Alexandro – (formal) Claro que sim. 
Clotilde – É que parece que você tá me evitando/
Alexandro - (corta) Eu to cheio de trabalho, como você pode ver. Mas qualquer coisa referente a trabalho, você pode tratar com a minha secretária. 
Clotilde – Não é nada disso, Alexandro/
Alexandro – (corta) Aliás, te chamei aqui pra te dar os parabéns pelo sucesso alcançado. (Ela não esboça nenhuma reação de entusiasmo) Na verdade eu tenho uma ótima notícia: O Durval me autorizou te dar um aumento considerável.
Clotilde – (desanimada) Obrigada, Alexandro.
Alexandro – Fica valendo a partir do próximo mês.

Alexandro se levanta como quem diz que precisa continuar o seu trabalho. Clotilde, constrangida, se levanta, pede licença e vai saindo. Ele a chama de volta. Vemos um fio de esperança no rosto de Clotilde. Ela se vira e vai até ele.

Alexandro – Não quero que se chateie comigo, mas prefiro que me chame de Seu Alexandro. 
Clotilde – (voz embargada) Eu entendo!

Clotilde se apressa em sair da sala. Ela é tomada por um vazio que lhe pesa muito. Alexandro tenta disfarçar, mas ainda está muito magoado. Ele senta em sua cadeira e volta ao trabalho.

Cena 30. Casa de Davi Valério. Interior. Dia

Davi abre a porta pra Olga. Vitor está sentado no sofá. Ela vai entrando.

Olga – Vitor, você não devia estar na rádio?
Vitor – (desconcertado) Eu já tava de saída, Olga.

Vitor se aproxima de Davi, dá um beijinho discreto e vai saindo.

Davi – Que acidez é essa? 
Olga – (acende um cigarro) Aquela velha, que continua me enchendo de perguntas...
Davi – Também pudera, né Olga? Isso tá muito estranho mesmo. (tom) Você sabe que não precisa me esconder nada! (T) Qualquer coisa que você tenha feito contra o Augusto, eu vou achar absolutamente natural. 
Olga – Eu pensei que você me conhecesse melhor. (T) Aquele cafajeste me fez muito mal, mas eu não tenho nada a ver com o sumiço daquele desgraçado!
Davi – Mas você não veio aqui só por causa disso...
Olga – É, eu vim te dizer que não quero saber de escutar o nome daquela cantorinha de bar, muito menos ouvi-la cantando em qualquer programa da rádio.
Davi – Eu já esperava por isso. Corta para:

Cena 31. Casa de Telma. Interior. Quarto de Telma e Cristina. Dia.

Telma está cuidando de Cristina, que está deitada, doente. Clotilde entra.

Clotilde – Ela não melhorou?
Telma – A febre já tá passando. Mas não deu pra ir hoje, preferi ficar com ela.
Clotilde – Eu não vou mais, Telma. (T) Não vou mais aparecer naquele hotel... Nem em rádio, nem em nada. Corta para:

Cena 32. Stock-Shots. Exterior. Noite/Dia.

Imagens da Cidade: Passagem de tempo de dias.

Cena 33. Hotel Palace. Recepção. Interior. Dia.

Telma trabalhando. A secretária de Alexandro está de passagem. Ela se aproxima de Telma.

Secretária – O que aconteceu com a Clotilde? O Alexandro me disse que ela abandonou as funções dela.
Telma – (aborrecida) É o que corre por aí, né?
Secretária – Teve um dia que o senhor Durval encheu o Alexandro de desaforo. (T) Eu sei que é sua amiga, mas o Seu Alexandro não merecia isso.
Telma – (tom) “Quem julga pelo que ouve e não pelo que entende, é orelha e não juiz.”
Secretária – Calma, colega!
Telma – Mas eu to calma, calmíssima... (T) Vamos trabalhar?!

Cena 34. Praia. Exterior. Dia.

Clotilde e Cristina, deitadas na areia, conversam. Um grupo de jovens, bebendo e fumando, também está por ali.  

Cristina – Vocês não me contam com detalhes, mas eu já imagino o que se passa. 
Clotilde – É que tua mãe não quer te envolver nessa história...
Cristina – Eu queria participar mais da vida dela... Queria que ela participasse mais da minha vida.
Clotilde – Você sabe que eu não tive mãe, né?
Cristina – Eu sei de muita coisa por ser curiosa, mas ninguém me situa... E parece não querer se situar sobre a minha vida também. 
Clotilde – Desabafe, Tina!
Cristina – Esse negócio que rolou entre você e a Olga. (T) Eu tenho medo, Clotilde.
Clotilde – Medo de quê?
Cristina – Medo de sofrer, medo de ser incompreendida... Medo de perder todo mundo que eu gosto...
Clotilde – Nada disso vai acontecer/
Cristina – (corta) Você não tá entendendo. (T) Eu acho que sou como a Olga... Eu não quero isso pra mim, Clotilde! Me ajuda!
Clotilde – (abraçando-a) Calma... Isso pode ser apenas uma confusão na sua cabeça... É normal! (T) Olha aquele marzão esperando a gente...

Cristina e Clotilde correm pro mar. Instantes. Voltam pra areia.

Clotilde – Ó, tá vendo aquele pessoal ali? (aponta) São uns amigos que eu conheci há uns meses.
Cristina – E por que a gente não ficou lá com eles?
Clotilde – (sorri) É que eles parecem um bando de desmiolados. Você poderia estranhar. 
Cristina – Ah, me apresenta...
Clotilde – Outro dia... Você sabe o ônibus que pega pra voltar pra casa, né?
Cristina – Mas, você não vai comigo?
Clotilde – Eu vou ficar um pouco com a turma. Corte para:

Cena 35. Casa de Everaldo. Sala. Interior. Dia.

Clotilde e seus amigos. Ambiente permissivo. Falam sobre política, cultura, amores/paixões/desilusões. Bebem e fumam à vontade. Uns no sofá, outros no tapete. Há um forte cheiro de maconha.

Everaldo (20) se aproxima de Clotilde. Ela está com uma taça de vinho na mão, sentada nos primeiros degraus da escada que dá acesso aos quartos da mansão.

Everaldo – Conhece? (mostra um compacto simples de João Gilberto)
Clotilde – Não.

Corte descontínuo: Já se ouve o som da música. Clotilde aprecia. Everaldo está fumando um baseado.

Everaldo – Tenho notado tu meio pra baixo.
Clotilde – Probleminhas...
Everaldo – Tenta relaxar a mente... Cê quer?
Clotilde – Não. 
Everaldo – Vai ficar sempre nessa? Até parece meus coroas.
Clotilde – Nem é caretice, é medo mesmo... (os dois dão risada) 
Everaldo – Experimenta, sua boba!

Fecha em Clotilde tentada. Corta para: 

Cena 36. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Noite.

Telma e Cristina estão jantando. Clotilde ainda não chegou. Telma está muito preocupada.

Telma – Você devia ter esperado.
Cristina – A senhora fala como se fosse a mãe dela também.
Telma – Eu tenho zelo!
Cristina – E desprezo pela Olga. Acho um exagero... É injusto!
Telma – A Clotilde foi criada sem a mãe, Tina...
Cristina – E a Olga? E eu, minha mãe?!
Telma – Você não sabe do que tá falando...
Cristina – Será que não? (tom) Já dizia Salústio: “Todos aqueles que devem deliberar sobre questões dúbias devem manter-se imunes ao ódio e à simpatia, à ira e ao sentimentalismo.”. (se levanta) Eu perdi a fome!

Cena 37. Salvador. Stock-Shots. Exterior. Noite/Dia.

Imagens da Cidade: Passagem de tempo de dias.

Cena 38. Rua/Frente da Casa de Telma. Exterior. Dia.

Telma está em pé no portão. Um táxi se aproxima do acostamento. Para. Desce uma bela mulher de aproximadamente 40 anos. Ela está vestida com exagero. Ostenta riqueza.

Mulher – (ao motorista) Isso aqui dá?
Motorista – Dá sim, senhora. Tem troco!
Mulher – Pode ficar com o troco. 

O táxi se afasta. A mulher é recebida por Telma, calorosamente. As duas entram.

Cena 39. Casa de Telma. Sala. Interior. Dia.

A mulher, sentada no sofá, folheia uma revista. Telma vem da cozinha, trazendo uma bandeja com chá e biscoitos.

Telma – Um chazinho de maracujá. 
Mulher – Deve estar saboroso...
Telma – A Cristina tá passando uns dias na fazenda. Ela ia gostar de te conhecer. Mas você tem pressa de voltar pro Rio, né?

Clotilde, sem educação, empurra a porta e entra. No susto, Telma e a mulher se levantam. Clotilde está com a percepção meio distorcida, pouco equilíbrio.

Telma – Clotilde, nós temos visita!
Clotilde – (confusa) Boa tarde... Ou é boa noite?!

Telma se apressa em ajudar Clotilde a seguir para o banheiro.

Telma – (a Clotilde) Você vai pra debaixo do chuveiro... (tom) A gente tem que ter uma conversa séria!

Na perplexidade da mulher Corta para:

Fim do 11º capítulo.

Confira o último capítulo [parte 1] e [parte 2].

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