domingo, 30 de setembro de 2012

UMA BOA HISTÓRIA: SEUS VEÍCULOS E SEUS MEIOS

Por Denis Pessoa

Olá, pessoal!
           
Depois de algum tempo, volto a postar por aqui, e hoje escrevo para comentar sobre os atuais meios e veículos utilizados para se contar histórias. Ora, já sabemos que ficção é quase como oxigênio, e precisamos dela todos os dias de nossas vidas. Porém, ela está mais presente do que imaginamos em uma primeira reflexão, e não apenas nos momentos que optamos por relaxar.

Nina, a mais recente vingadora.
O faz-de-conta é tão importante em nossas vidas, que, mesmo sem perceber, ocupamos muito de nosso tempo analisando, comentando, refletindo, como se o que discutimos se tratasse de algum fato real, sobre as histórias que nos são apresentadas: filmes, novelas, seriados, livros, peças. Cada um com um jeito singular de prender a atenção, de entreter e comover, de fixar em seu público a mensagem pretendida.

Norma, de vítima a monstro.
Pois bem: a meu ver, pouco se comenta sobre o modo de fazer essas histórias. Costumamos falar sobre o produto final – se gostamos, odiamos, se compreendemos ou não. Porém, geralmente ignoramos que o material que estamos acompanhando possui uma estrutura única, própria para o meio em que é veiculado, e ao seu público.

Nesse post quero falar basicamente sobre estrutura e linguagem. Por que o cinema se comunica de um jeito, TV de outro, se tudo é imagem? Por que não posso escrever um romance no formato de um roteiro e despertar o mesmo interesse? Por que as pessoas não leem meu roteiro com a mesma facilidade e interesse que leem um romance?

Emily: vingadora americana.
Vamos começar com a TV, já que vivemos em uma sociedade audiovisual. Especificamente, as novelas: diferentemente do cinema, tiveram, no inicio, como base, as radionovelas, que já existiam, ou seja, a prioridade, embora hoje, com TV’s maiores e melhores, que permitem imagens incríveis ainda é do áudio. Precisamos ouvir os personagens, seja o dizem ou o que pensam. Compreender ações e pensamentos dos personagens através de gestos singelos e olhares não combina com a telenovela, onde precisamos saber o que o personagem sabe. Segredos? Nosso protagonista pode ter com outros personagens, jamais com o publico. Novela é espiar o cotidiano alheio, é ter acesso diário aqueles personagens, em todos os instantes de suas vidas, é ter um compromisso com eles, por meses. Novela, diferente do cinema, é convivência. E descobrir algo desconhecido de alguém com quem se convive por meses não poderia despertar outra sensação que não a de traição.
O romance que inspirou nossas atuais justiceiras.

Novelas, por serem obras muito mais longas, não permitem muitas sutilezas. Tudo precisa ser expansivo, suntuoso, ter todo seu potencial dramático explorado até as últimas consequências e lágrimas.



Edmond Dantés: o vingador mais famoso.
Diferente das novelas, que possuem um público mais abrangente, o cinema pode restringir ao extremo os seus temas, intentos e público alvo, embora evidentemente o cinema como indústria possa visar exatamente o contrário. O cinema pode dar-se o luxo de ser subjetivo em suas “morais da história”. Permite com mais facilidade personagens e desfechos ambíguos. Em novelas isso também é permitido, porém, obra mais democrática, a telenovela precisa fazer com que sua mensagem seja captada pelo público em sua totalidade. Embora possa oferecer algumas dúvidas, é obrigada a proporcionar quantidade superior de certezas.

Famoso e cruel romance epistolar.
Com os seriados, a coisa funciona um pouco diferente. Utilizando como base os seriados americanos, já que a produção de seriados dramáticos no Brasil não é tão prioritária e não segue os formatos que já estamos acostumados a ver, podemos perceber que nessas obras, os personagens já podem ser menos lineares. Como a novela pede personagens mais evidentes – não quer dizer personagens rasos – os personagens de seriados podem oscilar mais, ser ambíguos. Não há necessidade de ser bom. Como o seriado abrange um publico mais restrito, fica possível explorar mais possibilidades, arriscar mais. De uma temporada para outra, um personagem pode retornar com a personalidade completamente reformulada, sem que isso altere ou deturpe o produto final. Um vilão pode ser o protagonista. Não há obrigatoriedade de ter um representante do bem, por exemplo, se a série é sobre mafiosos. Ou o bem não necessariamente triunfa nestes casos. Isso não choca e revolta o público. Em seriados, falamos de mundos restritos: polícia, advogados, serial killers, atores, enfim.

Adaptação do romance em 1989.
Fica sendo o grande diferencial dos seriados em relação às novelas. Em parte devido ào tamanho da obra, um seriado, consideravelmente menor em capítulos e maior em período de produção que uma novela, tende a ter menos personagens, e se focar mais na trama central que em tramas paralelas. Nas novelas, o público geral pede uma grande variedade de personagens na mesma obra: os que fazem rir, os que fazem chorar, os que dão medo. Em um seriado, os mesmo personagens adquirem todas essas funções ao mesmo tempo.

Por fim, sua versão teen contemporânea.
Nos seriados, assim como nas novelas, existe a convivência com os personagens e seu universo. Embora só os vejamos em momentos cruciais e marcantes de suas vidas, diferente de uma novela, onde podemos acompanhar nossos heróis e vilões em todo tipo de situação corriqueira, em tal ponto, nos sentimos íntimos deles, especialmente porque geralmente esperamos uma semana para reencontrá-los.

Romance de 1958.
Depois disso vem a sétima arte, visual por natureza. O cinema não pede diálogos obrigatoriamente. Aqui os atores não precisam falar: imagens, expressões e ações valem mais e dizem mais, pois aqui, o tempo é curto. Por isso, exige-se do cinema um realismo e verossimilhança maiores. Uma novela sem diálogos cansaria um telespectador.

Temos também a literatura, e aqui nos me restrinjo aos romances. Os romances literários tem incontáveis formatos e estilos e é muito difícil generalizar, sendo talvez a forma mais livre de todas para se contar uma história. Nem por isso deixa de ter suas regras. Aqui, prima-se pela narrativa dos acontecimentos, pensamentos e diálogos. Em literatura, a despeito dos grandes romances e franquias literárias, dificilmente se exercita a convivência, embora possamos nos sentir íntimos dos personagens através da exposição, clara ou metafórica dos seus sentimentos. Algo único, em se comparando à TV e o cinema.

Sônia Braga: Gabriela na TV e no cinema.
Então, temos o teatro. Tal qual o cinema, o teatro tem como meio de transmissão de sua mensagem, a imagem. Porém, não somente isso. Com o contato direto com o ator e o cenário, o público tem o prazer de imaginar. Ao contrário do cinema e da TV, que oferece um universo pronto, o teatro, tal qual a literatura, expõe fragmentos de uma imagem ou pensamento. O resto fica por conta da imaginação de quem assiste a peça. Assim como o cinema, o teatro tem um tempo muito curto para passar uma mensagem, ou seja, precisa ser bem incisivo, ou corre o risco de não mostrar a que veio.

Juliana Paes: nova adaptação.
Espero que vocês tenham notado, nessa breve análise, que cada tipo de obra preenche necessidades únicas, que se completam . Obra completa contada através de um único meio é algo que não existe. Se pegarmos a mesma história e adaptarmos para teatro, cinema, TV, literatura ou música, serão diferentes releituras, novos significados, novas versões. À exemplo, a “Gabriela” de Walcyr Carrasco, que, tenha sido embora fiel ao livro, precisou de arranjos para se tornar uma novela com mais de 60 capítulos. Walcyr extraiu cada gota de informação oferecia pelo livro de Jorge Amado – algo que o autor tem feito muito bem por sinal. Transformou cada mera citação do romancista em uma trama em potencial para a novela, e com isso, deu uma nova cara a já louvada obra. Como por exemplo, o casal Osmundo e Sinhazinha, que quando o livro começa já estão mortos, na novela tem a oportunidade de viver, em detalhe a sua história de amor e desfecho trágico.

Pessoal, vou ficando por aqui, pois acho que vocês já sacaram o que eu quis dizer. Encerro este post perguntando a vocês por mais exemplos de formatos para se contar uma historia, além de bons exemplos de histórias que já foram contados em mais de um formato, as que vocês gostaram, as que não gostaram, e por quê.

Comentem! Participem!

Um grande abraço!

Um comentário:

  1. formato acho que vc citou todos..temos os chamados gêneros literários romance, crônica, miniconto, agora muito na moda.Confesso que não consigo ler roteiros com prazer como leio uma peça, por exemplo.Acho que a diferença das nossas histórias pra dos americanos cujos seriados são sensacionais mesmo , dando de dez em muitofilme que é feito hoje em dia, é que nós estamos numa tevê aberta e lá apesar de toda caretice eles conseguem expor temas que nós nem sonhamos em abordar...coisas do Brasil.Boa ideia, Dênis.

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