domingo, 29 de abril de 2012

Pânico do Pânico


Por Daniel Couri

Gente para me jogar pedra é o que não vai faltar, estou ciente disso. O motivo? O fato de eu não curtir em nada o programa Pânico na TV, atualmente na Bandeirantes. Desde os tempos da Rede TV eu já achava aquilo um amontoado de piadas grosseiras, invasivas, apelativas e extremamente sem graça. Nunca consegui entender aquele "humor".


Reconheço que alguns dos apresentadores/repórteres são ótimos artistas e poderiam estar fazendo humor de verdade. Mas da forma como fazem no programa é algo surreal, no pior sentido. Quase todas as "piadas" são de um machismo inacreditável. Quadros preconceituosos, sempre exaltando a suposta estupidez das mulheres – geralmente gostosonas com muito peito, muita bunda e pouco (ou nenhum) cérebro. E todos parecem se orgulhar, dão risada uns dos outros numa espécie de competição para ver quem é menos inteligente.

Os quadros foram ficando cada vez mais constrangedores, agressivos e escatológicos. Entre os adolescentes virou febre. Os bordões caíram na boca da meninada, que idolatra os 'humoristas' do Pânico e imita os quadros toscos de pregar peças grosseiras nos colegas, com direito a tombos, tapas, sujeira e desafios esdrúxulos. Um prato cheio para quem quer aprender novas técnicas do tão repudiado – e ao mesmo tempo reproduzido – bullying. Ridicularizar os outros virou humor.

OK, mas isso é parte do humor. Ridicularizar políticos, artistas e celebridades, dentro de um contexto, pode gerar boas risadas. Principalmente se for feito de forma inteligente e sem partir para agressões pessoais. Mas da forma como o Pânico faz é bizarro. Escolher pessoas com deficiências físicas ou mentais e torná-las motivo de piadas e brincadeiras canhestras, dar a elas uma falsa impressão de que são 'estrelas' por alguns instantes é explorar demais as fragilidades humanas. E o pior é que essas pessoas nem se dão conta de que estão sendo ridicularizadas no país todo. Uma espécie de "freak show" do século 21.


Entre os destaques do programa estão quadros sensacionalistas e totalmente combinados. Mas sempre tentando passar ao telespectador uma ideia de surpresa, como se as baixarias acontecessem bem ali ao vivo e inesperadamente, diante de todos. Por exemplo, incentivar um homem a engordar até passar mal é humor? É um desserviço, isso sim. E obviamente as pessoas ganham para se submeter a esses vexames, mas fazem uma linha submissa, como se tivessem caído numa armadilha e não houvesse escolha. Sei...

A última – que felizmente não cheguei a ver, mas semana passada estava bombando na internet – foi uma panicat ter a cabeça raspada ao vivo durante o programa. Manchetes do tipo "Panicat é obrigada a raspar o cabelo ao vivo na TV" pipocaram na rede. Canastrice pouca é bobagem. Ela ganhou destaque na mídia (eu mesmo nunca tinha ouvido falar dela), obviamente recebeu um gordo cachê e agora propostas lucrativas vão chover na horta da tal moça. Alguém duvida? E ela ainda será reverenciada como celebridade no Brasil todo! Uma grande mulher! Praticamente uma heroína. Só que não.

Para quem não sabe, panicats são aquelas moças super cultas que desfilam em trajes sumários e exibem todo seu potencial artístico no palco do programa. E ainda se autointitulam "artistas", "atrizes", "modelos" ou coisa assim. Pois é. Panicat virou sinônimo de artista. Depois ainda falam que a juventude de hoje não quer saber de nada. Estudar pra quê? Trabalhar pra quê? É muito mais divertido ter a própria ignorância enaltecida no país todo e ser seguido como exemplo. Enquanto isso, nas escolas, como se já não bastasse os professores serem ridicularizados pelos próprios salários, são também ridicularizados pelos alunos, que perderam por completo o respeito pelos verdadeiros educadores. 

Minha ideia não é fazer nenhum discurso careta ou moralista. Adoro TV e acho que ninguém é obrigado a assistir o que não lhe agrada. Se não curte, é só trocar de canal. Faço isso sempre. O problema é que muita gente ainda jovem e sem uma visão crítica totalmente formada cai nessa esparrela e acaba se viciando nesse tipo de produto, cada vez mais consumido por crianças e adolescentes. (Infelizmente, quanto aos adultos, não há muito o que fazer).

Charge de Clayton Rebouças para O Povo

Como disse sabiamente Martha Medeiros em uma de suas crônicas do ano passado, "Ao perdermos os critérios de quem realmente merece destaque, só o que se destaca é nossa pobreza cultural". 

O Pânico poderia ser um programa divertido e inteligente, mas prefere apelar para o mais fácil. O pior é que continua arrebanhando uma legião de admiradores. E ainda tem gente que ataca as inocentes telenovelas. Ah, se nossas novelas fossem assim tão ameaçadoras quanto os Pânicos da vida...

12 comentários:

  1. Houve um tempo em que eu gostava do panico. Porém, abandonei o programa, quem quer ver dois humoristas comendo aquelas comidas esquisitas no quadro do Amaury, ou aquele quadro em que aquele tal Bola, é submetido aquelas brincadeiras grotescas e sem graça, isso não é humor, é patifaria. Bom era o tempo da dança do Siri, e do tempo que mendigo e aquele outro faziam parte, agora o programa virou simplesmente um amontoado de gente sem noção que acha que sabe fazer humor.

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  2. Sensacional a definição de panicats :"... são aquelas moças super cultas que desfilam em trajes sumários e exibem todo seu potencial artístico no palco do programa"
    Confesso que particularmente gosto da paródia em cima do Bóris Casoy e talvez consiga rir uns 10% do programa.
    Quanto a querer fazer graça em cima da humilhação é de fazer corar e ter saudades do "Topa Tudo por Dinheiro", tão demonizado nos anos 90. Infelizmente um programa que parecia um sopro de criatividade fora da poderosa e mirada Globo e ainda por cima alavancou uma emissora trazendo-lhes anunciantes de peso com marcas de alta credibilidade, recorreu ao achincalhamento do ser humano pregando o preconceito disfarçado de um tipo de humor.Simplesmente lamentável
    Resta saber até que ponto as polêmicas plantadas por essa turma continuará rendendo debates acalorados em redes sociais, altos índices de audiência e finalmente faturamento.
    Vários programas foram "a coqueluche do momento" e depois entraram em decadência porque esse tipo determinados tipos de apelo tem seu prazo de validade (vide "Aqui Agora", "Márcia" e "Programa do Ratinho".

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Valeu pelos comments, Rafael e Francisco! Pelo menos não sou o único a não achar graça no Pânico. Concordo totalmente com você, Francisco. Minha esperança é que a "coqueluche" Pânico passe logo. Não sei se é impressão minha, mas o programa já viveu dias bem mais "famosos". Hoje apela para as velhas e manjadíssimas polêmicas plantadas, além das escatologias e aulas de sadomasoquismo de sempre. Perto do Pânico o Programa do Ratinho chega a ser infantil!

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  5. Já curti bastante o Pânico na época da Rede TV, mesmo com poucos recursos, basicamente em cima de improviso, o programa valia bem mais a pena. Mas não quero que a turma seja extinta, apenas é necessário se fazer uma reformulada total no formato!

    Texto pertinente, Daniel!

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  6. Como bem definiu Wagner Moura, o Pânico é o maior exemplo da "espetacularização da babaquice". Na verdade, o programa já foi considerado vanguardista, mas hoje não passa de mais um produto de péssimo gosto na nossa TV. Sim, porque ridicularizar alguém não é fazer humor, definitivamente. Ótimo texto, Daniel! Abraço ao grande Isaac e turma do blog!

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  7. Eu tenho um nojo muito grande do Pânico desde que fizeram uma brincadeira escrota de arrotar na cara da Grande Dama Laura Cardoso.
    Achei algo inclassificável.
    Desde então, tenho asco deles todos!

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  8. Valeu Augusto, Isaac e Brunno! Concordo com todos vocês, mas tenho que confessar que nunca gostei do programa. Até tentei, pois uns anos atrás ele era muito comentado e eu queria saber o que era tão genial assim sobre o "Pânico", vários amigos falavam sobre o programa, assistiam. Tentei ver e achar algo de bom, mas não consegui. Após algumas semanas, vi que não tinha jeito. Mas tem alguns artistas bons ali, o formato é que precisa ser reformulado, como disse o Isaac. Espetacularização da babaquice, como lembrou o Augusto César, nunca foi humor. E sobre o infeliz episódio com Laura Cardoso, como lembrou o Brunno, bem... sem comentários!

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  9. Ai, concordo, concordo, concordo com TUDO no texto!
    O D E I O O PÂNICO! Até o nome, pra mim, é péssimo!!!
    Não assisto NADA pq não consigo nem ouvir o som, quando ligo a tv e tá lá. Não, não, não e não! E olha q nem to em TPM mais, imagina se tivesse e cruzasse com um estrupício daqueles?! Eu podia ser a Presidenta do país, tacava-lhe a mão na cara do mesmo jeito! Na verdade, vejo essas reações agressivas com eles como defesa:
    agrediu -> levou!
    Simples.

    Beijos e parabéns pelo texto.

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  10. Acredito ser fundamental professores de Ética das instituições de ensino superior, fazerem com que jovens que estão se preparando para entrar no mercado de comunicação, sejam alertados sobre esse absurdo. E não só isso, fundamental abrir um debate púbico para expor a decadência que a TV brasileira vive com esse espetáculo de horrores. O que são as concessões de TV? Gente, como analisar o que o estado quer educar? Para que serve um espaço que hoje atinge um número grandioso de pessoas? O audiovisual em sua essência é uma ferramenta de alcance gigantesca que está e muito interessante, que hoje está servindo para deseducar a população!

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  11. Vcs tem inveja do programa panico e muito manerio e salva muitas noites de domingo de todo mundo se e tão ruim assim ñ dava tanta audiencia

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  12. Assino embaixo..........Simplesmente falou tudo ....Parabéns pela coragem

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