segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Espetáculo de Sangue Bom

por Thiago Andrade

Nesta semana, Sangue Bom entra em sua penúltima semana de exibição, começando a trazer desfechos importantes para a história de diversas personagens. Longe de ser um dos maiores sucessos da experiente Maria Adelaide Amaral, e do seu colaborador promovido a coautor Vincent Villari, a novela tem recebido boas críticas da imprensa especializada, mas não emplacou tanto em audiência, atingindo médias de 28 pontos de ibope na reta final.
Particularmente, Sangue Bom é a minha novela preferida das que estão no ar na televisão brasileira e virou quase que um ritual sair do trabalho correndo para chegar em casa a tempo de assisti-la. Os autores em questão promovem a discussão sobre o mundo do espetáculo, em que nem tudo o que parece realmente é.

Na verdade, temos um mix bem amplo em pleno horário das 19h. Temos em destaque o mundo das celebridades, ou subcelebridades, que buscam a fama a qualquer custo. Temos também a pessoa que vira um produto para atingir o sucesso e é moldado por assessores e empresários inescrupulosos. Há aqueles casos de famosos que, por algum motivo, abandonam completamente suas carreiras em ascensão. Os que fazem tudo por dinheiro e os que não se importam tanto com os bens materiais. A publicidade que define o que é bom ou não para o consumidor. Entretanto, acredito que o grande eixo norteador da trama é o autoconhecimento.


Percebo isso muito nitidamente na maioria das personagens, mas principalmente na Verônica, de Letícia Sabatella, e na Damáris, de Marisa Orth. As duas adotaram um autoego bem diverso das personalidades que elas normalmente apresentavam. A primeira se tornou Palmira Valente, uma mulher segura, que chama a atenção dos homens e se revela no palco uma cantora pronta para o sucesso. A segunda se transforma em Gladis do Cabuçu, uma mulher despudorada, que abusa da sensualidade para conseguir o que quer. Do ponto de vista do telespectador, é interessante perceber como a trama vem convergindo para que cada um delas e seus respectivos autoegos possam encontrar um ponto de equilíbrio, uma vez que são partes de uma mesma pessoa.


Outra personagem que me surpreendeu foi a Malu, de Fernanda Vasconcellos.  A moça ingênua e passiva do início da novela deu lugar a uma mulher decidida, que se emancipa e luta por aquilo que quer, aprendendo, inclusive, a levar a vida de forma mais leve e curtir os bons momentos que ela proporciona. O mesmo não aconteceu com Bento, de Marcos Pigossi, o rapaz sangue bom da trama manteve uma regularidade e passou todo o enredo praticamente sendo o mesmo, sem grandes mudanças em sua personalidade.


Já os vilões de Sangue Bom devem mesmo seguir o caminho da redenção. Os próprios autores já afirmaram que Amora, de Sophie Charlotte, deve pagar por todos os crimes que cometeu. A ex-it girl que já perdeu o apoio da mãe adotiva e o grande amor da sua vida, ainda vai penar nos próximos capítulos com a morte da irmã e também com a prisão. A partir desse momento, a ficha vai cair e não restará a ela nada além do arrependimento.


Já Fabinho, de Humberto Carrão, aprontou todas, foi parar na sarjeta e deu amostras de que embora continue sendo um cara ambicioso, está disposto a tentar ser uma pessoa melhor, comovida, principalmente, pela compaixão das pessoas que o ajudaram e pelo amor que sente por Giane, de Isabelle Drummond. Esta é outra que foi crescendo e se transformando durante a trama, saindo da sombra de Bento e cuidando mais de si e de sua vida.  A partir do momento que ela põe fim nesse amor platônico, a vida dela dá um grande salto, deixando-a mais independente, bonita e livre para corresponder os sentimentos do ex-bad boy, com quem terminará a novela.


Essa reta final também marca a volta de Felipinho, Josafá Filho, dos Estados Unidos. Depois de se assumir homossexual publicamente, ele parte para um período de estudos no exterior e volta para a exposição de arte do pai. Os autores explicam que o afastamento de Felipinho foi necessário para a evolução da personagem, que sofre com o preconceito ainda existente na nossa realidade, principalmente, na mídia. E acho que levantar esse tema é extremamente válido, uma vez que, no Brasil, a sexualidade dos atores, em especial aqueles que interpretam mocinhas e galãs, ainda é um tabu para o grande público e para a área comercial deste ramo.


Sangue Bom tem um número extensivo de personagens. Mas muitos deles conseguiram se destacar e servir de ponto para discussões interessantes. Se fosse citar todos, esse post ficaria um “bocado” cansativo, mas quero mencionar aqueles que me impressionaram de alguma forma, seja pelo contexto da novela ou pela excelente atuação. Por isso, merecem os méritos Ingrid Guimarães, por interpretar Tina Leão, uma mulher insana, que depois de ser abandonada no altar dá uma de Nina (Avenida Brasil), se infiltra na casa de sua rival em busca de vingança. Malu Mader, na pele de Rosemere, uma mãe superprotetora, batalhadora, que morre de ciúmes do filho, mas percebe que ele precisa crescer, assim como ela. Bruno Garcia como Natan, um cara sem caráter, que trai a esposa e faz de tudo para se dar bem na vida, mas que percebe que ao mesmo tempo em que ele fez o mal para quem o amava, ele fez mal para si mesmo e tenta compensar os outros por isso. Carmem Verônica, como Karmita, que além de ser super divertida, é uma verdadeira conselheira para as personagens mais jovens e também para o próprio telespectador. E, por fim, Giulia Gam, que com sua Bárbara Ellen fez muita gente morrer de raiva por suas maldades, mas também fez rir muito pela sua total falta de noção.


Sangue Bom vai chegando ao fim e avalio que a novela cumpriu bem o seu papel. Durante toda a sua exibição, ela entreteu, emocionou e trouxe à tona temas importantes para a nossa realidade. Foram mais de seis meses, acompanhando o dia a dia de personagens que nos causou algum tipo de identificação ou empatia.

Basicamente, dois finais serão gravados – um em que a Malu fica com Bento e o outro em que ela fica com o Maurício, de Jayme Matarazzo. Agora é só esperar o dia 1° de novembro e acompanhar o fim dessa trama. Quais são suas apostas?

6 comentários:

  1. Adoro essa novela tb, gosto da leveza que ela trata de situações bem atuais e por não existir vilões e mocinhos é só analisar e ver o lado bem humanos de todos os personagens. Já que na vida real ninguém é perfeito rsrsr

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    1. É verdade, Vampira Dea. Já não é de hoje que podemos observar essa tendência dos autores de humanizar cada vez mais seus personagens. Acho isso muito positivo porque aproxima a novela da realidade do telespectador.

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  2. "Sangue Bom" mostrou a que veio. É o tipo de novela que eu curto, com bons ganchos e personagens multifacetados. Por um pequeno período deixei de acompanhar por achar que estava muito arrastada... (época das trocas do DNA). Mas a novela retomou o fôlego e chega a reta final com "sangue quente".

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    1. Concordo com você, Warney! Teve um período que a novela se arrastou mesmo. Acho que isso também foi uma consequência da quantidade excessiva de personagens. A própria Maria Adelaide Amaral disse que não gostaria de escrever uma novela com tanta gente assim. Mas essa reta final está bem quente mesmo, tô muito curioso com os defechos que autores darão. Vamos acompanhar

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  3. Não gostei de "Sangue Bom". Novela pretensiosamente moderna que apelou para os maiores chavões da teledramaturgia. Não gosto do estilo do Vincent Villari. Acho que ele está desvalorizando muito seu texto ao exagerar nas referências aos clássicos das novelas globais no seu texto. E essas referências são sempre mostradas na novela de forma patética. Isso já acontecia no remake chato de "Ti-ti-ti" e me irritava profundamente. Além disso, o elenco foi muito mal aproveitado porque houve excesso de contingentes. É preciso ter bastante paciência pra mais uma novela sobre universo da fama e (sub)celebridades. O tema já saturou, acho que não dá mais. A próxima das sete, "Além do Horizonte", tem gosto de novidade. Com um clima meio "Lost", acho que promete, vamos ver.

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  4. Dessa vez, não funcionou o esquema de inserções de referências teledramatúrgicas numa novela. O excesso se transformou em babaquice.

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