sábado, 14 de setembro de 2013

Arbitrário Folhetim - Último capítulo [1ª parte]

De Isaac Santos
Último Capítulo – Parte I

Cena 1. Casa de Telma. Banheiro. Interior. Dia.

Telma dando banho em Clotilde. Clotilde está chorando.

Clotilde – Minha vida tá uma porcaria, Telma...
Telma – Porque você quer assim, Clotilde. (T) Não acha que tá na hora de dar um basta nessa situação?
Clotilde – Me ajuda!

Na voz de Clotilde,

Corta para

Cena 2. Casa de Telma. Quarto de Clotilde. Interior. Dia.

Clotilde está dormindo. Telma e a amiga a observam.

Cena 3. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Olga. Dia.

Olga está deitada, mas acordada. Cristina entra e senta na beirada da cama.

Olga – Você não se parece em nada com a tua mãe. Tua mãe e aquela outra não me inspiram confiança, amizade. Você é sincera, doce, pura. 
Cristina – Eu também te acho legal. 
Olga – Posso te chamar de Tina?
Cristina – (sorrindo) Cês duas são parecidas mesmo... A Clotilde gosta de me chamar de Tina também.

Cena 4. Salvador. Stock-Shots. Exterior. Dia/Noite.

A cidade anoitecendo e amanhecendo.

Cena 5. Casa de Telma. Cozinha. Interior. Dia.

Telma, ainda de pijama, entra. Clotilde está pondo a mesa do café da manhã.

Telma – Caiu da cama?
Clotilde – É que dormi bastante. 
Telma – E como dormiu, hein? 
Clotilde – Levantei cedinho, já lavei umas roupas, saí pra comprar pão, leite, bati um bolo de laranja, que você adora.
Telma – Tô até estranhando. 
Clotilde – Ah, tenho que pelo menos tentar tirar a má impressão que a tua amiga deve ter ficado de mim.
Telma – Esqueça isso. (T) Ela tem uma coisa muito importante pra te contar.

Cena 6. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Dia.

Cristina está tomando um saboroso café da manhã. Olga entra esbanjando simpatia.

Olga – Bom dia, Tina!
Cistina – Bom dia. Tá animada, hein?
Olga – Acordei com uma baita disposição. Quero tomar café aqui mesmo, com você

Cristina e Olga trocam olhares.

Cena 7. Casa de Telma. Quarto de Telma. Interior. Dia.

Telma entra. Sua amiga está reflexiva, sentada na cama de Cristina.

Telma – Tá sem coragem pra contar a verdade?

Clotilde entra e surpreende as duas.

Clotilde – Licença, mas eu quero saber o que há de tão importante.
Telma – (a Mara) Acho que é melhor falar tudo agora. (a Clotilde) Ela, Clotilde... Ela é a tua mãe. A Mara é a tua mãe

Corte descontínuo:

Clotilde – (incrédula) Você tá mesmo preocupada comigo, né Telma? Inventar uma mãe pra mim! Eu já disse que não precisa se preocupar/
Mara – (corta) Não é nenhuma invencionice, Clotilde (T) Eu sou mesmo a sua mãe, minha filha!

Clotilde, trêmula, se senta na cama.

Clotilde – Brincadeira tem limite. Eu não admito que façam pouco caso da minha história. Cês querem o quê com isso?
Mara – (voz embargada) Eu quero seu perdão, minha filha. Quero tentar reconstruir a nossa relação...
Clotilde – (emocionada) Eu não to entendendo nada. 

Cena 8. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Cozinha. Interior. Dia.

Dora lavando a louça. Cristina sentada à mesa.

Dora – Cuidado com ela, hein?
Cristina – Ela não é má pessoa, Dora.
Dora Eu gosto muito que tu venha aqui na fazenda, mas se eu fosse tua mãe não deixava.

Cena 9. Casa/Quarto de Telma. Interior. Dia.

Telma, Mara e Clotilde, em conversa avançada. Mara está sentada na cama, lado a lado com Clotilde. Telma está sentada de frente pra elas, na outra cama.

Mara – E foi assim que eu tive que te deixar sob os cuidados da Irmã Gertrudes.
Clotilde – E a Telma entrou como nessa história?
Mara – Depois que você saiu do Orfanato, a irmã Pureza me telefonou, me falou da pousada, me colocou em contato com a Telma...
Telma – A tua mãe teve em Salvador algumas vezes, mas não queria que tu soubesse dela...
Clotilde – (olhando para a mãe) Por quê?
Mara – Medo da tua reação, covardia mesmo... Embora eu sufocasse um desejo enorme de me mostrar pra você...
Telma – Eu deixava tua mãe ciente de tudo o que acontecia contigo. Ela sempre se mostrou muito preocupada.
Clotilde – A senhora conheceu a Olga?
Mara – De vista. Vocês ainda estavam lá na pousada. Eu combinei com a Telma de passar uns dias, como hóspede. (T) Não simpatizei com ela. Algo me dizia que ela não era boa companhia pra você, minha filha.
Telma – Tua mãe estava presente na tua estreia como cantora. (sorri. Clotilde também sorri e deixa cair uma lágrima)
Mara – Você canta muito bem, minha filha...
Clotilde – Eu tava tão nervosa naquele dia.
Mara – É absolutamente normal!
Telma – Ela conhece muita gente do meio artístico, Clotilde... (Clotilde olha orgulhosa para Mara) Lembra que você me falou toda empolgada, sobre artistas famosos que estavam lá te prestigiando? Alguns foram atender a um convite de tua mãe. 

Cena 10. Salvador. Stock Shots. Exterior. Noite/Dia.

A Cidade anoitecendo e amanhecendo.

Cena 11. Fazenda Princesa do Sertão. Casarão. Quarto de Cristina. Interior. Dia.

Cristina se preparando pra voltar pra capital. Olga entra com Davi.

Olga – Olha quem chegou!
Cristina – É assim, né moço? Disse que vinha junto comigo...
Davi – É, tava tudo certinho, mas eu tive uns imprevistos.
Olga Imprevistos amorosos, Tina.  
Davi – (a Olga) Foi exatamente isso, sua cobra. Ele mandou beijos!

Os três continuam por ali. Clima de amizade, descontração. Davi repara que Olga e Cristina parecem mais próximas.

Cena 12. Casa/Quarto de Telma. Interior. Dia.

Telma ainda está deitada, mas acordada. Clotilde entra.

Clotilde – Vai ficar o dia todo nessa cama?
Telma – Sua chata!
Clotilde – (se sentando na beirada da cama) Não precisa fingir, eu sei que você já tá morrendo de saudade de mim. (sorri)
Telma – Convencida. (sorri) Mas to mesmo. A Cristina também vai sentir muito.
Clotilde – Se lá não for legal eu volto, tá?! (risos)
Telma – Lógico que tu vai gostar de viver com a Mara. Tua mãe é uma querida!
Clotilde – (empolgada) Ela tava me falando que tem um amigo, o nome dele é Jorge, Jorge Amado. Ela chama ele de Jorgito/
Telma – (corta) Eu sei quem é.
Clotilde – Então, ele tá fazendo uns rascunhos, pensando em escrever um romance inspirado na história dela. Não é fantástico?!
Telma – É, claro que é. (leve) Cê já tá chamando ela de mainha?
Clotilde – Calma, muita calma nessa hora. (Ambas sorriem.)

Se abraçam.

Fusão para

Cena 13. Rio de Janeiro. Stock Shots. Exterior. Dia.

Belas imagens da cidade.

Cena 14. Copacabana. Apto. de Mara. Sala. Interior. Dia.

Dias depois.

Clotilde, já habituada ao luxuoso apartamento de sua mãe, está sentada numa confortável poltrona de jacarandá, ouvindo músicas na vitrola e fumando um cigarro atrás do outro. O telefone toca. Ela se levanta, abaixa um pouco o som e atende.

Clotilde – (ao telefone) Alô! Telma! Que alegria, minha amiga. (T) Aos poucos to me acostumando... Tu tinha razão de falar que eu ia adorar. Isso aqui é um luxo. (T) É, o falecido dela era um comendador, homem muito rico. Minha mãe teve sorte. (T) Aos poucos também... Às vezes chamo de mainha, mãe. (T) Nada disso, sua boba! (T) Ela deu uma saidinha. Vamos receber uns amigos dela hoje à noite. Alguns eu já até conheci. Sempre se reúnem aqui, apreciam boas músicas, bons papos. (T) Ah, tô me apaixonando por essa cidade... Lugares lindos! (T) E a Tina, como tá? (T) Mas o problema da Olga é comigo. Se as duas se dão bem... (T) Me dê notícias do Davi, do Alexandro...

Câmera vai saindo de Clotilde e focalizando na vitrola. Corta para: 

Cena 15. Apartamento de Mara. Sala principal. Interior. Noite.

Câmera abre na vitrola e vai buscar Clotilde entre os convidados da festa. Clima intimista. Clotilde é apresentada aos amigos de sua mãe. Alguns, profissionais da música, fazem muito gosto em introduzi-la ao seleto grupo da MPB. Clotilde é puro entusiasmo.

Mara – Vamos brindar ao começo de uma nova fase da minha filha. (orgulhosa) Minha filha é linda, né?
Cauby Peixoto – ...E talentosa!

Todos erguem as taças, brindam e continuam a conversar.

Maysa – (fumando) Desejo que você tenha a mesma sorte que eu, Clotilde.
Mara – Beto, ela tá falando de você, né? (todos caem na risada)
Roberto Côrte Real – Eu acho que sim. E no que depender de mim, Mara, sua filha vai ser bem encaminhada na música. O Cauby tava me dando ótimas referências.
Tônia Carrero – (a Mara) Eu posso não entender muito de música, mas a sua filha interpreta divinamente. Canta com a alma. (a Maysa) Né , Maysa?
Cauby Peixoto – A Mara me convidou pra assistir a primeira apresentação dela, lá em Salvador. (deslumbrado) A menina deu um show.
Maysa – (bem humorada) Só não vale fazer mais sucesso do que eu, hein?! (todos gargalham)
Clotilde – (fumando) Ai gente, assim eu não aguento de tanta emoção... Isso tudo é verdade mesmo, ou vocês combinaram com a minha mãe? (sorri)
Mara – Imagina, minha filha. São meus amigos, mas muito profissionais. E não é por ser minha filha, você realmente nasceu pra brilhar.
Tônia Carrero – Só precisamos pensar num nome artístico.
Maysa – O Beto é muito bom nisso.
Roberto Côrte Real – Que tal Clô Ramos?!
Clotilde – Alguns amigos, lá na Bahia, me chamam assim...
Cauby Peixoto – Eu já imaginei algo mais exótico: Tilde Ramos!
Tônia Carrero – Gostei mais desse. (Maysa concorda)
Mara – Por mim fica sendo Tilde. O que acha, minha filha?
Clotilde – Eu prefiro Clô. (todos dão risada)
Maysa – Se eu bem conheço o Beto, ele já tá com a cabeça a fazer mil planos pra tu, Clotilde. Então, vai pensando e se decida logo...
Mara – A Maysa tem um programa de TV, minha filha... Imagine aparecer cantando na TV.

E nesse clima de confraternização, confabulações, eles continuam por ali. 

Cena 16. Rio de Janeiro. Vários ambientes. Interior/Exterior. Dia/Noite.

Passagem de tempo.

1 – Sala de Ensaios. Dia. Clotilde e alguns músicos ensaiando, sob o olhar atento de Roberto Côrte Real.
2 – Praia de Copacabana. Dia com muito sol, calor. Mara e Clotilde, na areia, entre amigos. Clima de descontração.
3 – Sala de Ensaios. Noite. Clotilde e seus músicos, ensaiando. Alguns fumam um baseado entre uma música e outra. Num canto da sala, sobre uma mesinha, uma garrafa de Uísque e uma bandeja com alguns copos.
4 – Apartamento de Mara. Sala. Noite. Clotilde assinando o contrato de gravação de seu primeiro álbum. Roberto Côrte Real a orienta. Mara observa. 
5 – Estúdio de gravação. Noite. Clotilde pondo voz em seu primeiro trabalho profissional. Por um vidro, é observada por sua mãe emocionada e pelo responsável técnico.
6 – Estúdio fotográfico. Clotilde é fotografada. Roberto explica a Mara como será a capa do álbum.
7 – Estúdio de Rádio. Dia. Clotilde sendo entrevistada.
8 – Estúdio de TV. Noite. Clotilde lançando seu álbum no programa da Maysa. Plateia vibrando, aplaudindo.
9 – Clotilde começa a ser amplamente conhecida. Todos comentam sobre o talento de Tilde Ramos. A imprensa enaltece o carisma e profissionalismo da grande revelação musical.

Corta para:

Cena 17. Salvador. Stock Shots. Exterior. Dia.

Imagens da cidade amanhecendo. Vê-se a legenda: Dois anos depois

Cena 18. Casa de Davi Valério. Sala/Jardim/Rua. Interior/Exterior. Dia.  

É de manhã cedo. Davi acompanha Vitor até o portão.

Davi – Eu sempre sonhei viver assim: contigo, contra tudo e todos. 
Vitor – Tá sendo a melhor fase da minha vida! (se beijam) Agora deixa eu ir que eu tenho muita coisa pra resolver lá na rádio. 

Vitor abre a porta, saem para o jardim, caminham até o portão.

Davi – (observando o jardim) Tenho que dar um jeito nesse jardim. Tá com pouca vida.
Vitor – Deixa pra fazer isso no sábado à tarde. Eu te ajudo, amor!

Davi abre o portão, Vitor sai caminhando pelo passeio. Ele e Telma se cruzam. Ela mal o cumprimenta. Davi ainda está na frente de sua casa. Telma se aproxima dele.

Davi – Bom dia, Telma. Aconteceu alguma coisa?
Telma – (nervosa) Posso entrar, Davi?
Davi – Claro que sim. 

Cena 19. Casa de Davi Valério. Cozinha. Interior. Dia.

Davi e Telma sentados à mesa. Continuam a conversa.

Davi – Tá mais calma?
Telma – Brigado pelo chá, Davi. (T) Não é questão de estar mais calma ou não. Se eu não tivesse achado o bendito diário da Cristina, ainda estaria sem saber de nada.
Davi – Eu sei que tu é a mãe, mas isso não te dá o direito de invadir a privacidade da tua filha, né? Me desculpe a sinceridade, Telma, mas eu não concordo!
Telma – Eu é que não concordo com a safadeza que a Olga tá fazendo com ela. Tá na cara que ela tá usando a minha filha pra me atingir, atingir a Clotilde.
Davi – Será que é isso mesmo? Será que é por esse motivo que você tá assim, ou é por não querer aceitar o fato de ter uma filha que gosta de garotas e não de rapazes?!
Telma – Não vem com essa, Davi. Cê vai me levar na fazenda ou eu vou ter que dar um jeito de chegar lá?

Cena 20. Fazenda Princesa do Sertão. Sala. Interior. Dia.

Olga e Cristina, risonhas, distraídas, entram. Elas estão chegando de uma cavalgada pela fazenda. Telma, em pé, de braços cruzados, está esperando por elas. Davi, que estava na cozinha, vem chegando, provando do saboroso cafezinho de Dora. Tensão. Olga e Cristina, surpresas.

Telma – É por isso que você faz tanta questão de continuar frequentando essa fazenda, Cristina?!
Cristina – Do que a senhora tá falando, minha mãe?
Telma – Eu to falando disto (mostra o diário), Cristina... Tô falando de você fazer sua própria mãe de idiota. Se bem que, no fim das contas, você é quem tá sendo a tola da história. Será que cê não percebe, minha filha?!
Cristina – A senhora não tinha o direito... Não tinha o direito de mexer em minhas coisas...
Telma – Você tava muito estranha ultimamente, minha filha.   
Cristina Estranha?! Estranha por ser eu mesma? A senhora não me conhece mesmo, minha mãe.
Olga – (a Telma) Tu se deslocou de Salvador pra cá, pra discutir relação de mãe e filha? Nem creio. (sarcástica) Bom, vou deixar vocês à vontade. Um bom banho me espera! (a Davi) Davi, meu amor, me acompanha? Morrendo de saudades de tu!
Telma – (a Olga) Você pode até me odiar, Olga. Não tem obrigação de gostar de mim... Nem eu de você. Não sejamos hipócritas. Mas usar a minha filha pra me atingir, atingir a Clotilde?! (possessa) Não ouse mexer naquilo que eu tenho de mais precioso... Você não tá louca de se aproveitar da ingenuidade de minha filha, sua vagabunda.  
Olga – (com frieza) Cabou? (T) Eu prezo por gostar de quem gosta de mim. Felizmente, a sua filha é completamente diferente de você. E você só tem acesso a esta fazenda por causa dela. (a Davi) Ai, to morta... Vem me fazer uma massagenzinha, vem!
Telma – Nem se preocupe quanto a isso. A Cristina volta comigo, agora, e ela também não põe mais os pés aqui. 
Cristina – Mainha, a senhora tá totalmente fora da realidade. (convicta) Já que a senhora leu o diário... É aquilo mesmo que tá escrito: Eu to me sentindo perdidamente apaixonada por ela. E ela por mim. (pura) Um sentimento lindo. (T) Ela nem pensa mais na Clotilde.
Telma – (chocada) Cala essa boca, Cristina. Você não sabe de nada... Vive aí no mundo da literatura, né? Isso aqui é realidade, minha filha.

Olga sai, puxando Davi pelo braço. Cristina e Telma continuam a discussão.

Telma – Eu quero o seu bem, minha filha. Eu sei o que to fazendo!
Cristina – Sabe? Será que sabe mesmo? A senhora leu o diário desde o começo, ou só fixou o olhar naquilo que lhe interessava? (T) A senhora nunca foi a mãe que eu precisava. Agora quer ser?!
Telma – (maternal) Vamos pra casa, minha filha. Eu prometo tentar ser a mãe que você tanto deseja ter.
Cristina – Eu já tava até me preparando pra voltar hoje. (T) Eu vou sim, minha mãe... Vou, mas volto!
Telma – Não volta. Eu não quero que você venha mais aqui. Eu errei em permitir que você continuasse frequentando essa fazenda.
Cristina – A senhora não tá me entendendo... (T) Eu amo a vida na fazenda, nasci, cresci aqui. E agora tenho um motivo ainda mais forte pra querer voltar pra cá, definitivamente.
Telma – Quê que cê tá tentando me dizer?
Cristina – Que eu vou com a senhora. Durmo lá, pego minhas coisas e volto pra cá.

Telma parece não acreditar no que ouve.

Cena 21. Fazenda Princesa do Sertão. Quarto de Olga/Banheiro. Interior. Dia.

Olga tomando banho. Davi sentado na cama. Conversa avançada.

Davi – Você não vai magoar a menina, né Olga? Onde já se viu, colocar filha contra mãe...
Olga – Tem nada de filha contra mãe. Não tenho culpa se aquela idiota tá fazendo uma tempestade num copo d’água...
Davi – Mas no fundo no fundo ela tem razão. Você ainda gosta da Clotilde. Pra que ficar envolvendo a menina nesse joguinho?
Olga – Clotilde é passado... A Cristina tem me completado. (vai saindo do banheiro)
Davi – Será?!

Olga começa a se vestir. Davi se levanta, se aproxima do guarda-roupa e mexe entre as roupas íntimas dela.

Olga – (estranhando) Você quer o quê, Davi?
Davi – Achei! (mostrando uma calcinha) E esta calcinha, amore? Tu ainda tem ela muito bem guardada, né? Pra quê? Pra cheirar, suspirar, esfregá-la no corpo, como cansei de te ver fazendo?

Olga dá um tabefe em Davi.

Olga – Sai daqui, Davi...
Davi – Eu vou... Vou pra casa. Não quero que o Vitor chegue e não me encontre. (vai saindo. Para) Vou fazer de conta que esse tapa nunca aconteceu. Depois a gente conversa. (sai)

Cena 22. Casa de Telma. Sala. Interior. Dia.

Telma e Cristina entram. Estão chegando da fazenda. Cristina, aborrecida, segue direto pro quarto. Telma, num choro incontrolável, desaba no sofá.

Cena 23. Rio de Janeiro. Stock Shots. Exterior. Dia/Noite.

A cidade anoitecendo.

Cena 24. Apartamento de Mara. Sala. Interior. Noite.

Mara e Clotilde assistindo TV. Campainha toca. A empregada vai abrir. É Roberto Côrte-Real, que vai entrando.

Roberto – (animado) Boa noite! (as duas respondem)
Mara – Que animação é essa?
Roberto – Ora, eu deveria estar triste? É claro que vim falar de convites, contratos... A Clotilde tá cada vez mais requisitada. O disco tá muito bem nas vendas.
Clotilde – Eu só não gostei de saber que você mudou a música de trabalho. Eu preferia aquela outra.
Roberto – Mas o público tá vidrado nessa que tá tocando nas rádios. Tá entre as mais executadas.
Mara – Minha filha, o Beto sabe o que faz...
Clotilde – (Vê um envelope) E isso aí em tua mão?
Roberto – Fechei mais um contrato pra tu... Você vai abrilhantar a inauguração de uma TV lá em Salvador.
Clotilde – (temerosa) Não sei se eu quero voltar lá, Roberto... Encontrar com certas pessoas.
Mara – Deixe de bobagem, Clotilde... Você não tá indo se encontrar com aquele povo. Tá indo fazer o seu trabalho. (orgulhosa) E eu quero mais é que eles vejam mesmo!
Clotilde – É, vai ser bom pra eu matar a saudade da Telma, da Cristina... do Davi. (a Roberto) Senta aí, Roberto.
Roberto – Não, eu vou indo. Ainda nem jantei.
Mara – Nós ainda vamos jantar. Cê janta com a gente!

Cena 25. Salvador. Stock Shots. Exterior. Noite/Dia.

A cidade amanhecendo.

Cena 26. Casa de Davi Valério. Cozinha/Sala. Interior. Dia.

Mesa de café da manhã com pães, requeijão, leite, café, manteiga e bolo de aipim. Davi e Vitor, sentados à mesa, já terminando de se alimentar. Davi, carinhoso, senta no colo de Vitor.   

Davi – Vem almoçar em casa?
Vitor – Venho. (T) Tô pensando em convidar o Alexandro e a Cíntia pra passarem o dia com a gente, domingo que vem. 
Davi – Quem diria que o Alexandro ia acabar se envolvendo com a própria secretária...
Vitor – Dizem as más línguas, que ela já era doida por ele, desde a época em que ele tava com a Clotilde.
Davi – Parece que dessa vez o Alexandro casa mesmo.

Campainha toca. Eles vão atender.

Davi – Será que é a Telma de novo?
Vitor – Capaz...

Vitor abre a porta. É Olga. Ela vai entrando.

Olga – Ainda aqui, Vitor? Não devia estar na rádio?
Davi – Olga, eu não vejo motivo pra você ficar se sentindo no direito de falar com o Vitor desse jeito. A rádio é dele também... É nossa! (T) Eu quero te pedir, pela última vez: nunca mais venha com arrogância pra cima dele.
Olga – Calma! Não falei por mal. Só vim te pedir desculpas por ontem. Será que a gente poderia conversar em particular?
Vitor – Bom, eu vou terminar de me cuidar pra ir pra rádio. Fiquem à vontade.

Campainha toca. Vitor vai atender. Abre a porta e recebe um envelope. Agradece e fecha a porta novamente.

Davi – Quem era, amor?
Vitor – (abre o envelope) Um rapaz... Veio entregar um convite pra nós.
Davi – (a Olga) Pera um momento, Olga. (a Vitor) Convite de quem, pra quê?
Vitor – Lembra que eu tava te falando daquela TV que vai ser inaugurada aqui em Salvador? Marcaram pra essa sexta.
Davi – E a gente vai, né mô? Tô cansado de ficar só dentro de casa.
Vitor – Claro que vamos. Sabe quem vai abrilhantar a festa? Tilde Ramos. (venenoso) Eu falei que a Clotilde assina como Tilde, né? (T) A música dela é uma das mais pedidas lá na rádio.
Davi – (controla o riso) Ah, depois a gente conversa sobre isso, Vitor.
Vitor – Dizem por aí, que ela tem um caso secreto com a Maysa.
Davi – Fofoquinha de artista... Sempre inventam alguma coisa. E agora chega de falar da Clotilde. Você vai acabar se atrasando.

Vitor deixa o convite sobre uma mesa de centro e se retira. Olga pega o convite, lê, se irrita e sai bufando. Bate a porta com fúria!

Cena 27. Casa Branca de Engenho Velho. Interior. Dia.

Olga em conversa já avançada com Mãe Zaida.

Mãe Zaida – Tu tem é que parar com esses pensamentos, minha filha.
Olga – É, a senhora tem razão, minha mãe...

Corta para:

Cena 28. Rua/Carro. Exterior/Interior. Dia.

Carro em movimento. Olga em conversa já avançada com o chofer.

Olga – Cê tem certeza?
Chofer – Sim, senhora. Pai Alfredo pode fazer o trabalho pra senhora.
Olga – Fica longe daqui?
Chofer – É nada.
Olga – Você, sempre dando solução pros meus problemas. Me lembre de recompensá-lo por isso. 

Cena 29. Casa do Pai Alfredo. Interior. Dia.

Olga se consultando com Pai Alfredo.

Pai Alfredo – Tu sabe que tudo tem retorno, minha filha?
Olga – Eu prefiro que o senhor pule essa parte... O senhor vai fazer o trabalho? Posso pagar muito bem por ele.
Pai Alfredo – Tu vai precisar me trazer uma panela de barro, uma aranha, uma vela preta, uma garrafada de cachaça, um bode preto e uma peça de roupa dessa menina que tu falou... Mas não me chegue aqui faltando nada!

Corta para


Fim da 1ª parte do Último capítulo.

Confira a parte final do último capítulo, aqui.

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