sábado, 20 de agosto de 2011

Insensato Coração - Crítica Final




“... Numa estrada dessa vida eu te conheci, oh flor!
Vinhas tão desiludida, mal sucedida por falso amor
Dei afeto e carinho...”

Como retribuição, recebi um casal de falso protagonistas que arrastaram uma história de amor nada convincente de janeiro até aqui. Admito saber que o mesmo talento para criar personagens maravilhosamente ardilosos Gilberto Braga não tem na hora de criar os seus mocinhos. Mas Pedro e Marina nem de porre desce. Paola e Eriberto são bonitos e juntos formaram um belo par. Mas isso é muito pouco para sustentar o principal casal de uma novela. Não aconteceu a química, suas falas eram pobres e melosas demais. São dois atores de talento, mas como casal realmente não deu certo. Não sou o maior fã de Gilberto Braga, mas acompanho suas novelas desde “Força de um Desejo” e confesso que fiquei meio frustrado com Insensato Coração. Prometia muito mais e mostrou de menos. Fez jus ao título e foi “insensatamente coerente”.

Marina – personagem fraca, altamente secundária. Não é protagonista nem na Televisa. Não exige uma intérprete de grande talento, mas necessita que role uma empatia forte junto ao público. Só assim a personagem poderia ser  menos indiferente. Gosto do trabalho de Paola Oliveira, mas seu carisma não se compara ao de Ana Paula Arósio. Mais sorte na próxima vez...



Pedro – muito humilhado, bobo, um perfeito idiota. Ninguém gosta de ter por perto uma pessoa que vive se lamentando e se colocando como a última das criaturas. Não há de ser numa novela que iríamos suportar isso. Ao menos dois meses antes do fim o personagem acordou e ficou mais esperto, mas não menos chato... Eu não gostei!

O Insensato Coração bate no peito de Norma, mulher simples e honesta que se deixa envolver e cai na lábia de um cafajeste que lhe aplica um golpe que a faz passar alguns anos na prisão. Pronto, nasce a personagem mais bem estruturada da novela, com a assinatura da grife Glória Pires. O enredo de Norma foi bem contado, de mulher frágil e ingênua a uma vingativa que de tudo faz para ter em domínio o homem que destruíra sua vida e brincara com seu amor. É a protagonista da história, a personagem título, a mais aguardada. Amei a sua trajetória, mas odiei seu fim. É claro que a insensatez de seu coração poderia levá-la aos os extremos, mas eu torcia pela vingança perfeita, com Norma viva e por cima.  Sobre Gloria Pires... O nome fala por si só. É chover no molhado. É capaz de dar vida a tudo que lhe apresentam...

Carol - Camila Pitanga assumiu o posto de “mocinha da trama”, cheia de nuances, conflitos tocantes e atuais, encontros e desencontros sentimentiais com direito a um triangulo amoroso com o amor do passado e uma relação sólida do presente. Mulher, mãe e profissional. Carol foi o retrato da mulher atual, impossível não se identificar. Não foi um sucesso como Bebel, mas agradou em cheio ao publico em geral. A química com Lázaro Ramos foi perfeita e mesmo Andre sendo cafajeste, houve muita torcida para que eles terminassem juntos. Porém ela ficou com Raul.
 
 Lázaro Ramos, vítima de muitas críticas no inicio da novela, acertou o tom de seu personagem no desenrrolar da sua história e conseguiu me conquistar. Tais críticas e rejeições mostram o quão preconceituosa é a nossa sociedade. Se fosse um ator branco e de cabelos lisos, seria natural o seu rodízio sexual com exuberantes mulheres. Mas ator era negro, tinha cabelo duro e fugia do padrão de beleza imposto. Isso incomodou. E muito. 

Natalie – quando tomei conhecimento do perfil da personagem, logo pensei: "Darlene - a evolução Pokémon". Mas os autores e atriz calaram minha boca antes que ela proferisse isso. Natalie lembra Darlene pelo sensual, mas são perfis distintos e Débora soube defender como poucas. Emprestou todo o seu carisma à vilã. Sim, vilã. Embora não seja assassina, Natalie teve uma conduta que passava longe da dignidade. Roubou e prejudicou algumas pessoas para conseguir o que queria, com muito charme, é claro. A D O R E I o seu final como deputada, um tapa com luva de pelica nesse circo chamado de Congresso Nacional.

Demorei um pouco para entender a Wanda e só consegui no final... rs! - mas a presença de Natalia do Valle me traz as melhores expectativas possíveis e dessa vez não foi diferente. Que show de emoção e naturalidade na cena em que soubera da “morte” de Léo. Tudo perfeito: as pausas entre as palavras, a respiração, a voz, ou melhor, a falta dela... E a confissão de culpa pelo assassinato de Norma foi inclassificável. Não há adjetivos cabíveis. Wanda, insensato coração de mãe!

Não posso deixar de citar atores veteranos, mas que continuam atuando com vigor e sem cair na canastrice de alguns colegas. Senhoras e senhores uma salva de palmas para:

Débora Evelyn
Marcelo Vale
Ana Lucia Torre
Cristina Galvão
Cássio Gabus Mendes
Louise Cardoso
Ana Beatriz Nogueira
Herson Capri
Rosi Campos
José de Abreu

Mas como nem tudo são flores, preciso dizer que é um afronte daqueles convidar uma atriz do naipe de Nathalia Timberg para aparecer 03 vezes na semana defendendo uma personagem ridícula, sem função, com falas clichês e de 4º nível. Mais respeito por tudo que essa atriz representa e pelos grandes trabalhos já realizados com este autor. Isso não foi digno!

Também achei um despropósito ver Bete Mendes em uma personagem fraca, extremamente coadjuvante e talvez desnecessária. Poderiam ter oferecido a outra atriz. O mesmo digo de Louise Cardoso, que poderia muito bem ser a Wanda, mas não foi a personagem que lhe coube e a mesma defendeu muito bem o papel designado.

Antônio Fagundes como Raul parecia o Ivan Meirelles de Vale Tudo: mais velho, mais chato, mais gordo e mais grisalho.

Inconcebível nos dias de hoje o boicote às cenas homoafetivas entre Hugo e Eduardo. Curioso uma cena amor entre iguais chocar mais do que a série de assassinatos que predominou nesta novela, a mais mórbida que eu já vi. Se o relacionamento gay não pode ser explorado, o mesmo não posso dizer sobre a Homofobia. Foi um trabalho muito bem feito em cima deste tema e alertou a nível nacional para crimes que quase sempre passam despercebidos e a união estável foi a cereja do bolo. Com ou sem boicote o recado foi dado!

Tão exagerado quanto à censura no núcleo gay, foram as participações especiais. Ajudaram a movimentar a trama, mas ao mesmo tempo deixaram a sensação de vazio, de coisa vã. Destaco a presença de Cristiana Oliveira e Milton Gonçalves. Ela como Araci, traficante já condenada cumprindo pena no presídio e algoz de Norma Pimentel em sua fase ingênua. Ele como o pai relapso, frio e ausente, incapaz de estabelecer uma relação de afeto com o filho, o único a estar ao seu lado na hora do fim. Duas participações verdadeiramente especiais.

Se alguns veteranos deixaram a desejar, jovens atores perceberam em seus pequenos papéis uma chance de brilhar. Giovanna Lancellotti deu vida a charmosa e romântica Cecília, irmã da menina furacão Leila, numa atuação da também competente Bruna Linzmeyer. Esse mesmo talento também se aplica a Tainá Muller, intérprete da frígida e arrogante Paula Cortez.



Se as meninas mandaram bem, os meninos não ficaram atrás. Depois de um começo duvidoso e pouco louvável, Jonatas Faro encontrou o tom certo para conduzir a trajetória de Rafael, o bom menino rico. Thiago de Los Reyes defendeu muito bem o amigo invejoso de Rafa, que arma contra o amigo movido pela inveja e a péssima influência do Vinicius de Thiago Martins, no seu melhor desempenho e papel numa telenovela até então. Mostrou-se um ator versátil, pois seu personagem embora fosse mau caráter, escondia esse lado da família e para ela mostrava-se um menino estudioso que não teve vida fácil. Thiago flertou com a dualidade forma coerente, andou na corda bamba de sombrinha e não caiu.

Por fim a redenção de Gabriel Braga Nunes. Antes de sua passagem pela Record, Gabriel fora do casting da Rede Globo, mas sem nenhum grande personagem ou maiores oportunidades. Nesse seu retorno a velha casa, Gabriel recebeu o que todo ator quer: um vilão. E de Gilberto Braga, expert no assunto.  Tá certo que comparado a outros vilões já criados pelo autor, Léo sai perdendo feio. Não teeve a imponência de "Odete Roitman" nem a malícia de "Maria de Fátima". Léo é artificial, impalpável, diferente. Porém reina absoluto dentro desta novela. Desde sua primeira aparição chamou para si os holofotes do folhetim e apenas o dividiu com a Norma Pimentel Amaral.
 
Sendo assim termino este post com a certeza absoluta que a novela em si, não foi boa, mas teve seus elementos positivos. E entre tantas mortes e feridas, Gabriel se salvou com louvor!!!


13 comentários:

  1. Ótima análise. Texto bem construído!
    Parabéns!!!!

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  2. "Antônio Fagundes como Raul parecia o Ivan Meirelles de Vale Tudo: mais velho, mais chato, mais gordo e mais grisalho." Adorei a descrição! Acrescentaria também com menos função na trama.

    Outra participação especial que gostei bastante foi da Ana Beatriz Nogueira.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Serei repetitivo, Brunno, mas de igual modo aos demais comentaristas, eu adorei a sua análise num tom inovador, quase musical de início...

    Não gostei da novela como um todo e muito menos nos últimos capítulos, mas achei "sensato" alguns desfechos, como o de Wanda sendo a assassina da Norma... Quero esquecer dessa novela e torcer para que o Braga volte em grande estilo!

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  5. Gostei do texto e da maneira com que vc defendeu seu ponto de vista. Realmente, quando soube que Gabriel iria entrar no lugar de Fábio Assunção, fiquei com um pé atrás, mas aos poucos ele foi mostrando sua construção - feita às pressas, diga-se - e terminou a novela à altura de Glória pires. São pra mim os dois protagonistas da novela.
    "Marina – personagem fraca, altamente secundária. Não é protagonista nem na Televisa."
    KKKK - Melhor definição impossível, garoto

    Uma delícia o seu texto, parabéns Bruno!

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  6. Para mim, a única coisa me fazia assistir essa trama (quando conseguia!) era a Camila Pitanga e o Lázaro Ramos.

    Ótimo texto!!!

    Beijos.

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  7. Insensato Coração vai tarde. Só gostava da Dona Norma e do Leo, que teve final digno. No mais, essa novela - pra mim - foi patética e vergonhosa. #ProntoMorri #Partiu

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  8. Execelente análise!!! Norma e Léo carregaram a novela nas costas. IC não foi um grande novela, mas valeu pra mim. COncordo em quase tudo no post, acrescentaria só uma menção honorosa ao casal mais fofo da novela: bibi e douglas. adorei eles.

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  9. Que bom que todos gostaram. Quis fazer bem do meu jeito e foi assim que saiu. Até a próxima, bjô!

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  10. Essa novela reuniu grandes e maravilhosos atores como Glória Pires e Lázaro Ramos, mas nem todos fizeram o papel excelente que esses dois fizeram.

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  11. A discrição de Marina foi perfeita...Concordo com todo o resto.

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  12. Glória e Gabriel já haviam feito belas cenas em Anjo Mau, se puder reveja, foram também grandiosas...

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    1. Depois de errar nas duas novelas,Paraíso Tropical e Insensato Coração, torço para a volta do antigo Gilberto Braga. Novelas como Dancin Days,Água Viva,Escrava Isaura,O Dono do Mundo e minisséries como Anos Dourados e Anos Rebeldes foram tão especiais,que não reconheço mais o grande autor.Quero aquele novelista que modernizou as tramas de uma maneira charmosa e atual. Volta Gilberto para os seus admiradores! Aguardaremos a próxima novela.

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